Si o jogador mais destacado dos Sub-17, o talentoso Mateus Mide, pertencesse ao Sporting ou ao Benfica, a RTP e a vasta constelação de comentadores da imprensa lisboeta não deixariam passar uma única oportunidade para o elevar aos céus. Seriam horas de emissão, debates inflamados, manchetes cintilantes e crónicas quase poéticas a enaltecer cada passe, cada drible, cada gesto técnico do jovem.

Não tardariam as comparações exageradas, os paralelos com antigos craques e até as inevitáveis projeções de futuro que, ano após ano, alimentam uma máquina mediática demasiado familiar para quem acompanha de perto o futebol português.

Mas a verdade é simples e conhecida: quando o talento surge no norte, e sobretudo quando veste de azul e branco, o entusiasmo mediático tende a ser mais moderado, mais contido… ou simplesmente inexistente. É como se o mérito exigisse sempre uma prova acrescida, como se o rótulo de “jogador do FC Porto” obrigasse automaticamente a uma espécie de vendaval crítico ou a um silêncio estratégico. É quase tradição — e quem é portista sabe bem do que falo.

Por isso mesmo, quando vejo surgir um jovem como Mateus Mide, com qualidade, personalidade e margem de crescimento acima da média, não sinto necessidade de que as televisões ou os jornais façam festas públicas. Porque ser do FC Porto é, em parte, aprender a valorizar o que é nosso sem precisar da aprovação dos outros. É saber que a grandeza não se constrói com capas de jornal, mas com trabalho, rigor, espírito competitivo e uma cultura vencedora que atravessa gerações.

E é aqui que reside a diferença: enquanto alguns clubes parecem depender da máquina mediática para sustentar a narrativa do seu “grande” estatuto, o FC Porto há décadas demonstra em campo, com resultados concretos e com jogadores formados na sua própria casa, que não precisa de ruído para ser gigante. O reconhecimento vem de dentro, dos adeptos que vivem o clube com uma paixão intensa e inigualável, e de fora, daqueles que, mesmo a contragosto, sabem que o Porto está sempre entre os candidatos a tudo.

Por isso digo, com orgulho e tranquilidade: felizmente sou do clube mais grande — o FC Porto. Um clube que não precisa de favores noticiosos para revelar talento, que não molda a opinião pública através de conjeturas diárias, que não se perde em narrativas artificiais. Um clube que trabalha, que forma, que luta e que vence. Um clube cuja grandeza é sólida, construída com suor e conquistas, e não com manchetes encomendadas.